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Indignação #1 - O caso Robles

O caso Robles despertou indignação generalizada, julgo que a fonte primordial deste vendaval foi o Jornal Económico. o caso tem relevância porque Ricardo Robles, vereador do BE, é um dos mais "ferozes críticos da especulação imobiliária". A minha atenção, todavia, não se prende com a incongruência do vereador, mas pelas tentativas de defender a sua posição. Houve quem dissesse que Robles é um mártir porque defende políticas que vão contra os seus  próprios interesses, houve quem alegasse que a polémica foi "pseudo-moral" (sic). O caso mais caricato na defesa da incongruência política foi de um indivíduo que alegou que os ideais ou valores políticos não pertencem ao mundo da realidade, é uma perspectiva interessante porque utópica. Podemos acreditar em valores e princípios mas ninguém deve partir do pressuposto que os praticamos no mundo real. Esta refutação da indignação lembrou-me as palavras de António Gedeão, numa forma um pouco ousada, para estes figurinos, não é o sonho que comanda a vida, é a vida que comanda o sonho. Podemos sonhar com utopias mas nas nossas vidas encaramos a realidade tal como ela é, assim podemos condenar a especulação ao mesmo tempo que beneficiamos com esta. A polémica teve diversas ramificações, como é habitual, centenas e centenas de posts e comentários irados. Quero apenas deixar o registo eloquente de Daniel Oliveira, no Expresso: a esquerda não moraliza o lucro. 


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Léxico

zorata - doida escabujar - mexer fanchona - mulher imponente esampada - embruxada lastrar - dar lastro macanjo - palerma coitanaxo - coitado futre - ordinário récega - golpe de sol forjicada - cozinhada chambaril - pau de suspensão do porco morto galilé - alpendre na igreja esperluxar - luxar murzango - triste resulho - parte sólida do caldo mesoneiro - vendeiro (de ‘mesón’)

Com ou sem decoro?

Lembro-me de uma história sobre um rapaz "que era bom demais para ser verdade", a figura ouviu das boas porque todas as suas acções eram correctas, íntegras e cândidas, não podia ser verdade, não existe bondade assim (não estou a falar de mim). Lembro isto a propósito de Marcelo, digamos que o seu discurso é irrepreensível, mais do que perfeito, é demasiado excelso para ser verdade. Levanta a ques tão se é verdadeiro, honesto e coerente, fica a ideia que tanta bonança só pode ser premeditada, hipócrita e dissimulada, é fruto de uma mente calculista. E aqui reside um problema fundamental. O que importa? A aparência, as formalidades e os sinais exteriores do discurso? Ou a essência? Não digo que o presidente seja uma besta, mas quanto a bestas, quais são as preferidas? As que dissimulam ou as rudes e genuínas?

Karl Kraus

Karl Kraus reproduzia em espectáculos de grande impacto trechos que encontrava em jornais, assim, descrevendo a decadência dos costumes através da palavra escrita, o modo como a linguagem pode conduzir à perversão. Foi um visionário, anteviu a emergência dos nazis e a queda da Áustria ao terceiro reich. Sinto que posso fazer exactamente o mesmo nos dias de hoje, como se estivéssemos numa antecâmara de uma catástrofe. As eleições no Brasil fizeram-me compreender que a propaganda nos dias de hoje é um fenómeno horizontal, são as pessoas comuns que deliberadamente propagam a distorção dos factos, posso até achar que existem organizações em torno das fake news e tudo mais, mas a sua influência seria mínima, residual se não houvesse uma horda de ávidos colaboradores.