O caso Robles despertou indignação generalizada, julgo que a fonte primordial deste vendaval foi o Jornal Económico. o caso tem relevância porque Ricardo Robles, vereador do BE, é um dos mais "ferozes críticos da especulação imobiliária". A minha atenção, todavia, não se prende com a incongruência do vereador, mas pelas tentativas de defender a sua posição. Houve quem dissesse que Robles é um mártir porque defende políticas que vão contra os seus próprios interesses, houve quem alegasse que a polémica foi "pseudo-moral" (sic). O caso mais caricato na defesa da incongruência política foi de um indivíduo que alegou que os ideais ou valores políticos não pertencem ao mundo da realidade, é uma perspectiva interessante porque utópica. Podemos acreditar em valores e princípios mas ninguém deve partir do pressuposto que os praticamos no mundo real. Esta refutação da indignação lembrou-me as palavras de António Gedeão, numa forma um pouco ousada, para estes figurinos, não é o sonho que comanda a vida, é a vida que comanda o sonho. Podemos sonhar com utopias mas nas nossas vidas encaramos a realidade tal como ela é, assim podemos condenar a especulação ao mesmo tempo que beneficiamos com esta. A polémica teve diversas ramificações, como é habitual, centenas e centenas de posts e comentários irados. Quero apenas deixar o registo eloquente de Daniel Oliveira, no Expresso: a esquerda não moraliza o lucro.
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