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O drama

Esta foto vale mais do que mil fundamentações. Mas o ponto de indignação tem uma lógica: são as árvores. Claro que à partida não concordo com o abate indiscriminado de árvores, a não ser por razões de segurança. Mas o meu dilema com esta polémica é de outro teor, não há lugar para a neutralidade por muito objectiva que seja, ou és contra ou és a favor. Ou estás afecto ao executivo da câmara ou estás contra. Ninguém considera a singela hipótese de não estares afecto a nenhuma facção, isso é quase uma heresia. O pressuposto é simples: indignas-te porque fazes parte de algo maior do que tu. A tua opinião pertence a um corpo definido de agitação. Não há lugar para a independência. E isto tem repercussão nos debates que tenho lido. A culpa deste tipo de situação não pertence a ninguém. Se no passado opinaste pela tribo, ficas sem grande autoridade para opinar individualmente. Ou seja, o compromisso político tem um preço, tanto para a sociedade como para o cidadão. Escapar desta lógica é praticamente impossível. A tribo protege e dá significado às tuas ações, mas também nega-te autoridade nos juízos individuais. É um drama e eu assisto a tudo isto incrédulo.


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Léxico

zorata - doida escabujar - mexer fanchona - mulher imponente esampada - embruxada lastrar - dar lastro macanjo - palerma coitanaxo - coitado futre - ordinário récega - golpe de sol forjicada - cozinhada chambaril - pau de suspensão do porco morto galilé - alpendre na igreja esperluxar - luxar murzango - triste resulho - parte sólida do caldo mesoneiro - vendeiro (de ‘mesón’)

Com ou sem decoro?

Lembro-me de uma história sobre um rapaz "que era bom demais para ser verdade", a figura ouviu das boas porque todas as suas acções eram correctas, íntegras e cândidas, não podia ser verdade, não existe bondade assim (não estou a falar de mim). Lembro isto a propósito de Marcelo, digamos que o seu discurso é irrepreensível, mais do que perfeito, é demasiado excelso para ser verdade. Levanta a ques tão se é verdadeiro, honesto e coerente, fica a ideia que tanta bonança só pode ser premeditada, hipócrita e dissimulada, é fruto de uma mente calculista. E aqui reside um problema fundamental. O que importa? A aparência, as formalidades e os sinais exteriores do discurso? Ou a essência? Não digo que o presidente seja uma besta, mas quanto a bestas, quais são as preferidas? As que dissimulam ou as rudes e genuínas?

Karl Kraus

Karl Kraus reproduzia em espectáculos de grande impacto trechos que encontrava em jornais, assim, descrevendo a decadência dos costumes através da palavra escrita, o modo como a linguagem pode conduzir à perversão. Foi um visionário, anteviu a emergência dos nazis e a queda da Áustria ao terceiro reich. Sinto que posso fazer exactamente o mesmo nos dias de hoje, como se estivéssemos numa antecâmara de uma catástrofe. As eleições no Brasil fizeram-me compreender que a propaganda nos dias de hoje é um fenómeno horizontal, são as pessoas comuns que deliberadamente propagam a distorção dos factos, posso até achar que existem organizações em torno das fake news e tudo mais, mas a sua influência seria mínima, residual se não houvesse uma horda de ávidos colaboradores.