Talvez para percebermos Roger Scruton, devemos sintetizar primeiro a sua tradução de Burke para o idioma moderno: "o conhecimento de que precisamos para as circunstâncias desconhecidas da vida humana não deriva, nem está contido, na experiência de uma pessoa singular, nem pode ser inferido a priori de leis universais. Esse conhecimento é-nos transmitido por costumes, instituições e hábitos de pensamento traçados ao longo de gerações, através das tentativas e erros de pessoas, muitas das quais morreram durante o correspondente percurso." Trata-se de uma acepção sensata, podemos aprender com os nossos pais, avós e ancestrais, nem que seja pelos seus erros. Numa visão simplista da tese, temos que olhar para trás para perceber o que está à nossa frente. Ignorar os erros de outras gerações, assim, parece o primeiro passo para repetir os seus erros. De certa medida, não creio que ninguém ignore a sensatez de olhar para a história, de interpretar os movimentos da história de modo a adquirir princípios que podem ser seguidos na vida contemporânea, pessoal ou social. E não é de todo incompreensível que seja irresistível para a algumas tendências "tomar conta" da interpretação da história. Aliás, o primeiro capítulo deste livro vai nesse sentido, na tentativa de Hobsbawm e Thompson de "interpretar" a história à luz do conceito de lutas materialistas de classes. Digo que é como ignorar a consciência humana, como se os homens e mulheres que agiram no passado fossem movidos por forças impessoais ligadas à produção. Parece que foram pessoas sem sensibilidade, princípios ou valores.
No segundo capítulo, a atenção "cáustica" e minuciosa de Scruton aponta baterias para os liberais americanos, o Galbraith é um dos visados. A sua tese, em suma, refere que há uma "tecnoestrutura com forças impessoais". Roger faz a sua análise à luz dos desenvolvimentos tecnológicos dos anos 60, a minha intuição diz-me que Galbraith merece ser lido de acordo com o fulgurante desenvolvimento tecnológico recente. É uma intuição que não menospreza o olhar "cáustico" de Scruton, mas que pode ser importante. De resto, é um livro "muito divertido de ler", talvez não pelas razões que o editor quis insinuar.
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