Houve um tempo que os dois falavam-se, trocavam impressões de versos, arte, pensamentos, sem tocar no assunto, como se esse assunto não existisse, o caso é uma mulher, uma mulher que tinha pertencido aos dois, uma mulher poderosa, sensual, forte. O primeiro tinha tido um breve caso com ela, um contacto íntimo que durou pouco até que ela o trocasse pelo segundo. Claro que tudo aconteceu com cordialidade, como se nada tivesse ocorrido, como se não houvesse maneira de arrancar rancor. Mas o ressentimento ficou, oculto, debaixo da superfície. O caso não podia ser esquecido, o primeiro foi humilhado pelos amigos, todos sabiam o que tinha ocorrido, ele ficou sem o seu caso amoroso, num momento em que todos sabiam que a amava. Ela partiu sem consideração pelos seus sentimentos, trocou-o por alguém que não merecia o seu respeito. Foi uma traição, uma sivícia, ela era a sua amada, o amor é sagrado, é inconcebível que seja rasgado por um ímpio. Os dois tinham a mais íntima das ligações, ela é uma mulher inagualável, uma mulher como não há outra, uma mulher ao seu nível, uma mulher que é uma igual. O abandono foi uma traição, não só ao seu afecto e orgulho, mas um gesto sem nexo na ordem natural das coisas. Uma maldade contra a natureza, eram perfeitos um para o outro, as suas sensibilidades tocavam-se numa intimidade profunda, que não podia ser descartada, aquele abandono foi um pecado sujo, de uma violência inconcebível. As relações cordiais do seu usurpador não podiam ser toleradas.
Na verdade, ele, o segundo, tinha compaixão pelo episódio. Não considerava que tivesse ursurpado aquela mulher. O feitio dela era funesto, de uma líbido furiosa, uma volúpia incandescente. Claro que compreendia que o seu caso foi uma trangressão, compreendia a dor do outro, sentiu compaixão por o outro, foi por isso que tentou aplacar aquele padecimento. O efeito foi diametralmente o oposto. A sua compaixão tornou-se uma anátema, um crime lesa-majestade, como se não tivesse arrependimento, respeito por aquela ferida escancarada. As relações cordiais deterioram-se, os dois deixaram de se encontrar. O rancor ficou, o ódio foi crescendo alimentado pelo ressentimento. Há transgressões que não se perdoam. A mulher ficou esquecida, mas o ódio ainda queima, muitos anos depois.
Na verdade, ele, o segundo, tinha compaixão pelo episódio. Não considerava que tivesse ursurpado aquela mulher. O feitio dela era funesto, de uma líbido furiosa, uma volúpia incandescente. Claro que compreendia que o seu caso foi uma trangressão, compreendia a dor do outro, sentiu compaixão por o outro, foi por isso que tentou aplacar aquele padecimento. O efeito foi diametralmente o oposto. A sua compaixão tornou-se uma anátema, um crime lesa-majestade, como se não tivesse arrependimento, respeito por aquela ferida escancarada. As relações cordiais deterioram-se, os dois deixaram de se encontrar. O rancor ficou, o ódio foi crescendo alimentado pelo ressentimento. Há transgressões que não se perdoam. A mulher ficou esquecida, mas o ódio ainda queima, muitos anos depois.
Comentários
Enviar um comentário