Quando penso no rol de polémicas que chegam ao meu discernimento e na dificuldade em separar o trigo do joio, o que é essencial do acessório, o que é valioso e o que é trivial, chego à conclusão que há que cultivar um saudável distanciamento da realidade, aquela que descobri em Derrida, a realidade intersubjectiva.
Ainda no outro dia reflecti sobre a fanática atenção perante a realidade e sua natureza obsessiva, é uma atenção irracional porque esta "realidade" é na sua essência irracional, sobrevive do empolamento de mentiras ou verdades banais, sem interesse ou valor. Ser cúmplice dessa "realidade", colhendo polémicas avulsas e sem nexo, sem consequência nenhuma na realidade dolorosa, a real, onde impera os receios e a solidão, e como as polémicas servem apenas para lavar as mãos como Pilatos, ou seja, para servem para ilibar a consciência do desconcerto do mundo. Não há melhor caminho do que ignorar, abster-se, não alimentar a feira de distracções da alma, não ser cliente ou cúmplice do negócio da irracionalidade.
Este afastamento, todavia, apresenta um dilema. Este afastamento não pode ser total porque essa também é uma forma de cumplicidade com a natureza venal deste aparato. Depois, a verdade é preciosa demais para ser abandonada. Uma mentira mil vezes repetida não se torna numa verdade, mas uma verdade mil vezes repetida pode-se tornar banal e fútil, como se fosse uma bagatela. Portanto, o afastamento deve ser apenas uma reclusão temporária porque é preciso força, vigor e vitalidade para que o desconcerto não tome conta do mundo, e, por arrasto, de nós.
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